A Poesia ronda as minhas noites
E, clandestina, penetra meu silêncio
Sorrateira vem do vazio num sussurro
Naquele átimo de que se faz o pensamento
Arranca-me as palavras do nada
E violentamente atira-me nesse deserto sem fim

A Poesia com volúpia ronda-me os desejos
Vela-me o sono, cuidadosa, povoa-me os sonhos
Arranca-me da quietude a que me entrego
E me lança indefeso à força dos vendavais
Destrói todas as naus da armada de minhas vontades
E me abandona na triste solidão de todos os cais

A Poesia me arranca da tranquilidade de não ser
Para me jogar na arena de tudo o que há por dizer
Envia-me às mais absurdas de todas as batalhas
Entrega-me impiedosa aos leões da imaginação

E me devora aos poucos, letra por letra
Dilacera-me com a força de cada palavra
E me transforma nesse quase nada de nada
Deixa-me perdido na masmorra do esquecimento

A Poesia me arrebata em segredo toda noite
E me devolve a tudo num outro amanhecer
E me segue discreta pelas horas do dia
E me encontra atônito num outro anoitecer

A Poesia me salta da garganta aos soluços
Irrompe repentina no enorme e horrível grito
A Poesia me mata aos poucos por puro prazer
E somente por seu mero prazer
A Poesia me faz viver
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 29/10/2009
Reeditado em 06/09/2021
Código do texto: T1893322
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