LABIRINTO 
para Luiz Fernando e Bruno Prôa

®Lílian Maial
 


Um choro súbito - a chegada!
Corredeira de risos, travessuras e caminhos.
Um sopro abrupto,
a mão fantasma que leva o menino.
Um gole, um trago, um cheiro,
 um pico e um poço fundo e insosso.
Desfilam anjos em revoadas,
Desejos travestidos de monstros azuis,
de seios fartos e músculos rasgados.
Náuseas e gozos de lágrimas e suores coloridos.
Prisão num abismo eterno que despenca
e roda e roda e roda.

Um choro convulsivo – a demora.
Sonhos  de pedra que pesam
a amargura da falta de chão.
Um grito, um medo, um dano,
um filho e um pai
e a luta.
Tão lentamente os dedos se afastam
sem forças e sem chances.
As rochas e o sol por testemunhas,
dureza de águas sufocantes,
de superfície que não chega,
de imensidão largada, sem paredes.

Um choro baixinho – a entrega...
Um corpo e um gesto,
e a flor deflorada murcha em botão.
Só os espinhos por plateia
e o silêncio do fato consumado,
consumido e inconformado.
Lá longe, lá atrás, a porta.
À frente, uma consciência de profundidade,
um salto para o nada,
 abandono do grão de areia.

Um choro sem pranto – o veredito:
saudade e lembrança,
uma vida e uma vida,
planos e projetos sem sentido
e a inesgotável certeza da força do sangue,
dos laços inapagáveis,
da união na dor e no desalento,
quando se olha e se vê o engodo e o milagre,
a criança e o pai,
os destroços e a poesia,
e se entende que tudo,
sem janela e sem porta,
sem juízo ou sentença
dos homens ou dos deuses,
é um eterno recomeço.
 
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