ao cair os restos

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ao cair os restos da tarde

em trapos de bandeira

espalma a fina poeira

recolhe-os na palma aberta

contrários entre si são os jogos

auto-sedução e comiseração

perdidos em auto flagelo

os dados atirados ao acaso

ricocheteiam no tampo da mesa

observo bolas pretas

sulcadas em velho marfim

(amarelo e com micro-trincas)

se confundem ao buscar

o pano verde e horizonte

não há amigos

quem são os que se vislumbram

nos outros cômodos

escondidos que estão

nas frinchas do assoalho

no smog da noite e cigarros

repleto de olhos tristes

ao mesmo tempo vingativos

neblinas acusadoras

a esses

servimos adagas e garfos

forma de peixe e cabos de ágatas azuis

sobre baixelas de prata e gelo

(o gelo fino dos trópicos)

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as cartas se abrir

e sem resposta

sussurram arengas antigas

(guardadas num baú

ainda sob a cama)

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tenho vivido como que morto todos os dias

ressuscito a fórceps todas a manhãs

remorro de novo ao escurecer

não há gozo sobre a glória efêmera

não o menor prazer sem conseqüências

remorsos com pontas de diamantes

eu que tenho todas as respostas

procuro perguntas aos forasteiros

e monges mendicantes de pés feridos

folheio um novo livro

o Oráculo Pessoal

de Baltazar Gracián

o prudente é invisível

aos olhos de todo o Mal

Edson Bueno de C
Enviado por Edson Bueno de C em 18/01/2005
Código do texto: T1892