Hoje
Hoje
Hoje quero um cigarro
E algo forte pra beber.
Um choro bem tocado na guitarra
Um bom samba nas cordas
De um desafinado violino
Quero os absurdos cubistas
E a melancolia abstrata
De um Kandinsky qualquer.
Tudo diluído em três pedras de gelo
Num copo cheio de alomorfes
Decorado com uma grande rodela verde
De rima ão.
Hoje estou down.
Sob um oceano de pensamentos inóspitos
Quedo-me inerte
Para que não percebam minha presença
E me deixem ficar
Assim...
Paradinho...
Quase sem respirar.
De onde estou
Choro de alegria
Por uma partida de dominó vencida
Por um desconhecido amigo meu
E observo, curioso,
O rato que passou por mim
Miando Chico, apaixonadamente,
À poodle rosa bailarina de axé.
Estou mesmo sem rumo
Sem leme
Sem prumo
Nessa embarcação furada
Que tomei.
Embarquei em algum lugar
Num não sei onde
De um não-lugar
E naufraguei em meu mar de idéias
Tão inúteis
Quanto uma certeza qualquer.
Divagares e utopias
As preparei para um Novo Mundo.
Thomas Mores se surpreenderia.
Agarrando-me em Rosas e Machados de salvação
Fui dar na mais linda praia
Sem mar que só Dali
Aqui faria.
Viagem noturna
Límpida aurora boreal
Boreando meus delírios
Colorindo meu sorriso ébrio,
Mecânico, cansado;
De se abrir sem reciprocidade
De não ver
De verdade
Aquilo que já vi
No mar das coisas minhas.
Lá vem, de novo, o tédio.
Hoje estou down.
Adriana Kairos