Despojos d'alma

Hoje, já despojado da alma

O corpo descansa em calma

Entre os sombrios ciprestes

Sem que a nada mais preste

Imóbil, ignóbil, putrefato

Deixou ao largo o seu fardo

Agora fita o imenso vázio

Com olhos que nunca viu

A sensação que maculou

Há muito já o abandonou

Num fim, frio, duro, estático

Outrora, um triste asmático

A doença que carregou

À pútrida cova o levou

Vestimenta fétida da alma

Só enfeite como um dolmã

Pestilenta a terra algema

A duras penas condena

No final a libertação

Singrar fora da prisão

Essência que foi liberta

Dessa carne abjeta

Após recuperado o brilho

Solta logo o teu estrilo

Das nóduas esvurmada

Dos vermes esterilizada

Aerícola estupefada

Pois vive, após finada.

Brasília-DF, 26 de outubro de 2009.