Renascer
Vivo apenas de sonhos poéticos
Como alguns dizem viver
De gloria, esperança e luz
Efluvios que da alma emanam
Nessas, todas, abstrações busco
O realmente concreto que há em mim
É nessa busca infindável por eu mesmo
O anseio em ansiar que deixa-me ansiado
Não devo procurar o que já esteja a meu lado
Como eu poderia não saber onde procurar-me
Se é em mim mesmo que me posso encontrar
Acredito ser regido por conceitos arquéticos
Que me levam a essa busca infindável e vã
Sigo inabalávelmente cumprindo minha sina
Convencido a continuar numa aventura malsã
Fazem-me procurar nos locais mais improváveis
Agora cansei de ser manipulado como meu fantoche
Percebo, tardiamente, a minha filosofia é a dos sofistas
Realizo os discursos infindáveis sem profundidade alguma
Defendo teorias que jamais poderão sequer ser comprovadas
Serei eu colaborador, benemérito, do nada em momento algum
Sou eu, simplesmente, um genial autor de projetos inacabáveis
Sou eu o reles, o desprezível, sou enfim o meu próprio inimigo
Descubro que não posso continuar a semear as inverdades
Impossível, manipular-me sem que eu queira acabar isso
Sou eu o filho da terra que finalmente renega ao cortiço
Não mereço compaixão, mas sim ver abatido o viço
Entregar-me-ei ao julgamento e punição merecida
Abandonarei meus conceitos mesmo arraigados
Trilharei novos caminhos e a verdade ao lado
Não mais tergiversarei serei sempre direto
Vou procurar a remissão agindo correto
Ainda pela vida triunfo fazendo o certo
Hoje nascerá, poeta da luz e verdade
Um novo homem nascido da mulher
Que germinou à força das palavras
E aflorou, ele, em momento algum
Esse que é filho do que escreveu
De uma frágil teia que ele teceu
No formato delas que nunca leu
Nutriu e não sem dor concebeu
Do contexto que o assemelhou
Embora ninguém o reconheceu
E sem pés ou cabeça pareceu
Deu-lhe a vida e nunca morreu
Mas se algo nasceu não foi eu.
Brasília-DF, 17 de outubro de 2009.