A CHÁCARA

O lago ainda lá se encontrava,

com suas águas um pouco reduzidas,

com sua aparência de forma desalinhada.

Com sua cor do azul cristalino,

agora num tom verde escuro limboso,

pelo excesso de folhas em seu leito , caído...

As árvores em volta,

outrora pequeninas,

agora maiores e envelhecidas;

mais fracas nas cascas, podendo até

descascá-las com as pontas dos dedos.

Suas raízes expostas, alguns galhos desnudos,

O cheiro de mofo, de madeira apodrecida.

O tronco grosso, alto, embora velho ( trinta anos se passaram),

ainda trazia entalhado o desenho do coração com uma seta atravessada

e o nome escrito à canivete: “ Donizeti”...

Da casa, ainda restava um cômodo;

com as paredes sem reboco, danificada pelo tempo.

E as telhas em desalinho,

deixava passar um raio de luz do sol

que clareava todo o aposento.

Expondo no canto, o fogão a lenha,

ainda com os últimos gravetos queimados,

usados há trinta anos atrás;

O banco de madeira no outro canto,

ainda com uma das pernas quebrada,

como de costume, escorado por três tijolos

e encostado na parede...

Ali, me veio à mente a lembrança

de meu avô, sentado sobre aquele banco;

com a caneca de ágata com café numa mão

e o cigarro de palha na outra...

Lá fora, ouvia-se o cantar dos passarinhos,

a mim fazendo lembrar, as gaiolas com os canarinhos

que vovô pendurava no beiral da casa...

Mais adiante, nos fundos;

ainda ouvia-se a voz do riacho e da cachoeira,

hoje mais fraca, triste...

Como a lamentar na escuridão,

escondida sob as árvores e os arbustos,

o abandono, a solidão em que se encontrava.

Pois outrora era sempre uma festa;

as crianças e os adultos brincando

nas árvores, se refrescando sob seu véu espumante...

Ah! Quanto tempo passou!

Tantos que a morte levou!

Não existe mais a alegria naquele recanto,

Não existe mais a casa, como era,

Não existe a gaiola e o canarinho,

Não existe o lago em seu frescor,

a cachoeira e o riacho ( fraca e poluída)

camuflada pelas velhas árvores e cipoeiros,

Estão morrendo com o passar dos anos...

Da velha chácara triste,

não existe mais o encanto, a beleza;

Só o canto mudo de saudades, de tristeza,

num coração de menino...

Doni Leite