SONHAR NA CHUVA 

Quero ser tenente 
Dos “ bóias frias ” , 
Dos inexatos números da exatidão da fome, 
Do menino homem e da mulher criança, 
Mãe de todo sofrimento. 

Quero impotente 
Andar por entre os gritos, 
Entre o ventre e o passado 
E cantar a morte súbta. 

Quero sorridente
Ver voltar cristo com as mãos furadas 
E retirar do inferno 
O jovem soldado que matou, 
Por onde passou, a rosa de sua amada. 

Quero somente 
Estar diante da dúvida, 
Fazer rir no cortejo fúnebre do poeta, 
Acariciar os cabelos da viúva, 
Que com certeza, é uma pobre mulher na vida. 

Quero ver a corrente 
Correr entre os dedos, 
Andar por entre águas, 
Nascer no coração das montanhas, 
E simplesmente ser um elo na trama dos homens. 

Quero que o tenente morra, 
Na imponência de um olhar qualquer, 
E a importância lhe será somente 
Um veio na corrente, que, 
Simplesmente jorra. 

Uma reedição que muito me alegra. Este texto fez parte de uma antologia publicada pela COOPARTE, cujo título foi "ENTRE PEDRAS E SEIXOS" em 1984, ainda sob os ventos da ditadura.