Fera inculta
Dentro de mim mora uma fera inculta
Ela já não obedece a minha vontade
Normalmente finge que nem me escuta
Tento domesticá-la, mas corro grave perigo
Pois essa fera é, por vezes, meu único abrigo
Valho-me dela conforme interesses escusos
Sendo-me útil, peço que permaneça e a uso
Atrapalhando-me, eu a expulso, a recuso
Peço que parta para longe e me esqueça
Parece que de tanto ser tripudiada
A fera agora cobra seu preço
Ela, hoje, sabe o quanto é odiada
E passou a odiar-me, pois mereço
Quando está controlando-me, faz pirraça
Agora mesmo parece conduzir-me a desgraça
Faço tudo que ela quer, mas com muita comoção
Por isso tento livrar-me da fera com sofreguidão
Mas ela jamais me abandonará e tem toda razão
Essa fera, que me domina, é o fruto da minha paixão.
Brasilia-DF, 19 de outubro de 2009.