Lógica

A monotonia das planíces,

os falsos dias dificieis,

o raso das superficieis.

Como erva nativa,

como flor sempre viva,

caminhas no quarteirão

sem que pises no chão.

É o verbo à espera do conjugar,

nesse claro/escuro de filmou "noir"

em que as Realidade são só supostas,

pois há o querer daquilo que mais gostas.

Sombra e claridade

que me alcançam,

nessa meia idade

em que os Tempos descansam.

Coisas do Latim Tadio

e do pseudo poeta vadio.

No prefácio, o Livro da Rotina

alerta para o que acha ser a Verdade cristalina.

Trata-se de material perigoso,

posto que prega um viver delicioso

sem a necessária dose de circulo virtuoso

que há de nos redimir

no dia do Juizo Final

etc. e tal.

O canceroso já nem ostenta o estomago vazio,

verossimil à Caixa de Pandora

que ao abrir logo aflora

um protesto contra a Tirania de toda hora.

Do trabalho inútil,

da tortura da espera,

do tédio da demora

e de "otras coisitas más"

que são coisitas más.

O poeta Geraldo

já me havia alertado

que escrevera sobre Moisés no Sinai

em sua busca pelos Sacros Sinais,

que, geralmente, só são vistos nos doentes terminais.

E tudo gira nesse Caleidoscópio

que é coisa de Paranóico.

Que Lilian voe como Garça

e que navegue junto à barcaça

e se entorpeça com a Santa Fumaça

até rir do palhaço sem Graça.

Cuidado apenas com a armadilha

da turma que vira quadrilha

quando o assunto é Partilha.

Dolorosa impotência que nem Pilulas Azuis impedem.

Gosto de abandono,

sabor de ausência

que aumentam meu medo e a Consciência

de que sou aquilo que não compensa.

Que a dureza do Mundo

tire-me a escada desse Poço Fundo

onde me vejo preso

por ordem da paixão e do desejo.

Para não falar do Diabo malfazejo.

Gargalham as Gralhas

recolho a Alma, a Ancora e as tralhas.

De novo estou só

e sigo o caminho

em busca de outra dor,

de outro espinho.

E eis que agora

só resta a saudade

de quem foi embora.

Justo no calor daquela hora

em que me vi livre do frio de lá fora.

E ainda se dança a ciranda

pouco se lixando para como a vida anda.

E ainda que me chamem de Melodramatico

não consigo amar de modo burocrático.

Moça do Rio, qual é teu feitiço

que me faz ser tão feliz,

sem me dar conta disso?

Moça que ao entrar em minha vida

justifica esse caminho de pedra não polida.

Então escuto que o Poeta se apaixona pela palavra.

Garimpeiro do sentir, nessa estranha lavra.

E assim queria terminar o dia.

Anoitecer-nos em Poesia

e no átimo em que atravesso o umbral

rever como em um jornal

a vida que levarei

do tempo que por aqui fiquei.

Alguém me falou em um túnel iluminado

e da revoada de versos

e de Pegasus, cavalo alado

que transporta qualquer bardo.

Mas acho que é só esse sonho que deixarei de legado.

Será que habitarei outra mansão?

Mas as pernas não subirão

essa ladeira sem corrimão.

Serei cozido no bruto fogo

pelo malogro

do que não logrei?

Será? Hein? Será? Não sei ...

Caminho só.

Ninguem me espera.

Foi assim na vida

onde vaguei como Alma Perdida.

Dessas, que não descobre a saída.

Oh! O horror! O horror!

Horror do Bardo bastardo

que morrerá virgem de pecado.

Livrarei o Verbo da Prisão no Dicionário.

Quebrarei a gaiola do Canário

e calarei o sofrer diário.

E foi numa "*Selva Escuro"

que Bete entrou no Hades, via tortura.

Desde então é essa minha loucura.

Essa vã procura

pelo carrasco Dr. Paúra.

Que fada bendita

moça bonita,

trouxe-te dos Campos Eliseos?

Onde eu, pobre mortal,

incense teu umbral

e te conjure contra todo Mal.

E assim sucedeu:

arribado pelo fogo de Prometeu

ergui-me do barro

e mesmo que só por sarro

tomei o primeiro carro

e fui encontrar a moça da beira mar.

A mulher da beira de amar.

Aquela que embutiu

a felicidade em meu cotidiano

e que se fez de meu todo plano.

Fim de dia de verão.

Fim do Sol de pré verão.

Buscarei Lilian para irmos à praia,

sentir a brisa

e o amor que me arde

nesse começo de noite

e fim de tarde.

E tal está o Sol

que se imagina

que chove dourado.

Lógica? Qual?

Tem não. É só um pedacinho da vida ...