Eu vi o crepúsculo que se despedia
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Eu vi o crepúsculo que se despedia
lentamente
pela janela do meu quarto:
ele parecia uma velha fragata que se
perdia na linha do horizonte. Parecia.
O crepúsculo sangrava sobre os telhados
do meu triste bairro suburbano
quando tive uma miragem:
pensei que era você
quem partia (e não ele, o crepúsculo)
pensei ter visto você
deslizando entre nuvens
se despreendendo de tudo
do rios, dos ventos, da copa das árvores
pensei que era você
esmaecendo sobre as casas, sobre
a torre das igrejas, sobre
[o sino que badalava sordidamente...
pensei que era você
espalhando seus cabelos e
seu luminoso sorriso
sobre a cidade rumorosa,
sobre meus olhos
que se despediam de ti...
pensei
pensei que você partia
de tudo e de mim, teu pobre poeta no cais,
tudo isso considerei e vi
quando o crepúsculo sangrava
lenta, lentamente
e da janela eu me despedia
de ti, aurora, mulher.
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