Há um jeito estranho de existir
Um olhar de fora para dentro
Que me vê sem que eu veja me ver
Um sentir de dentro para fora
A colorir de estranheza tudo o que não está em mim
Como se a realidade me acuasse
E me penetrasse o absurdo de tudo que me acussasse
No meio de tudo que talvez eu nem pensasse
Vozes lá fora e cheiro de alguma festa
A atrapalhar-me sorver os tic-tacs de momentos que morrem
Passando tão inúteis tão somente para tornarem-se horas
Para serem desperdiçadas nessa insana ânsia de viver
Que sequer eu percebo...
A espera, alguma espera, fixa-me como uma indesejável raiz
Quando andar significa buscar uma estranha sabedoria
De todas as histórias de todas as folhas mortas
E cada folha seca e morta, caída, levada pelo vento
Vale muito mais que qualquer pensamento
A noite é tão inútil por trazer o dia
Com toda a sua inevitável agonia
Como um olhar que me olha olhar-me de dentro para fora
Que não vê os tic-tacs sorverem-me incessantes
Como arautos do que me devora no tempo
De fora para dentro

 
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 19/10/2009
Reeditado em 06/09/2021
Código do texto: T1874431
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.