DUAS MULHERES
Desde o fundo desta noite
uma mulher me olha.
Julgo reconhecê-la
e ela me olha
certa de conhecer-me.
Julgo desconhecer-me
nesta mulher que me olha
certa de conhecer-me
desde o fundo de uma noite
perdida nos vãos do tempo.
Tento reconhecê-la
desde o fundo do olhar
de mim, esta mulher que olha
a mulher que me olha
certa de conhecer-me.
Do fundo do tempo
nos desvãos desta noite
sem fim e sem remédio
duas mulheres se olham
uma esfinge, outra pitonisa.
Eu que a olho, esfinge.
Ela a olhar-me, pitonisa.
Nas duas, palavra nenhuma
desde os confins da noite
pássaros de NUNCA MAIS.
Zuleika dos Reis
Poema de 18 de outubro de 2009.