Retorno às raizes
Lembro do frio de tiritar
Das pescarias e com ânsia
Da terra que deixei ficar
E dos amigos da infância
Lembro da velha mãe
Na despedida chorando
E das lágrimas grossas
Mais uma vez rolando
Mas pequena cidade
Onde nasci e cresci
Sempre chega a idade
Que se tem que partir
Lá só tem uma praça
Com lindas flores
Alguns velhos bancos
Os mais antigos amores
Terra da branca geada
Tingindo negros cabelos
Melancólica invernada
Dos esquecidos apelos
Dos que não se foram
Assistindo seu decair
Com um aí dorido
A tudo viram ruir
Como o anjo decaído
Lembram das glórias
Com os olhos luzidios
Contam velhas histórias
Jurei que não voltaria
Que isso não é para mim
Fui atrás da idolatria
Cidade grande, meu fim
Percebi na simplicidade
Do riso largo que trago
Do velho pai na varanda
A esperar o filho amado
Ao sentir o frio cortante
Não existe maior calor
Do abraço aconchegante
Dado com todo ardor
Volto com olhar atento
Às maravilhas que deixei
Não estão do mesmo jeito
Mas a tudo reconstruirei
Peço, sem que se zangue,
Do velho pai o fraterno abraço
Pois trago misturado, no sangue
Ele todo, pedaço por pedaço.
Brasília-DF, 17 de outubro de 2009.