Indigente

(Infectum)

A veia arrebenta

e espirra o negro sangue

pela madrugada alada

e bêbada.

Enquanto um velho

deita-se e vomita-se

num canto da cama,

a moça luiza

se contorce

e assiste aos filhos

perdendo-se pelas filosofias.

O palácio é mínimo

para tantas imagens

e ideias.

Tanta poesia...

tanto e tão pouco,

no rápido,

passageiro

e uniforme.

O primogênito guia

e transforma

os passos destes pobres

no banquete

de cores virgens.

O maldito,

antiquado e promíscuo.

O desertor

de sua pátria

e de seus discípulos.

Um agitador de

faces dúbias;

um grão de qualquer coisa.

Algo que se debate

e combate

algo que não existe,

mas que se tinge

como o quê.

Uma tela inacabada,

em constante construção.

Um humano,

um qualquer,

um entre tantos uns.

Outro daqueles que sentem.

Vive e se reconhece

e reflete a si próprio

o que foi

e em que se torna.

Suga,

usa,

adquire

e toma.

É tudo o que sempre se sonha.

O ser que não é,

pèro c'è.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 17/10/2009
Reeditado em 08/11/2009
Código do texto: T1870994
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