MARMÓREA





Assim tão lassa estás

distanciada

pernas esquecidas

dos passos ...

Apóias o rosto na mão

braço pedestal

pouso firme

da vontade abrandada em devaneios

protegida dos olhares e dos punhais...

E na calma de uma tarde ou madrugada

os olhos vagueiam no nada entre

quatro paredes vazias...

Corpo lasso, paisagens da memória

um filme em branco e preto

desfila lembranças

e talvez uma dor intensa

percorra tuas entranhas...

Saudades, recordações

quem sabe o que te vai

por dentro dessa mansidão...

Quem sabe que sorte te

espreita num fim de tarde qualquer

em doce manhã esplendorosa

ou no ônix indecifrável

dessas noites escuras?


Estátua em branco mármore

guardada estás atrás dessa vidraça

de convições falidas

Respiras ainda, vida aparente

esperas alguém que nunca apareça

teces tuas ladainhas e rendas

com mal fingida indiferença

E dos teus ollhos, bem observado

poderão ser vistos clarões repentinos

fulgurantes cintilações

relâmpagos prenunciando tempestades

sob a aparente placidez das carnes

a mão apoiando o queixo

braço pedestal

um leve tremor nas faces

anseias por quem te preencha

ocupe o vazio de teus dias lentos

aqueça as tuas entranhas

resvale por tua pele

escale tuas paredes

e quebre a vidraça dos teus medos!