— Ao girar da roda —
Guardo-me em gavetas, em estórias, em intervalos
Inconstantes de memória. Guardo-me aos pedaços
Em retratos, em relatos, em pó
Viajo em nuvens que já não são as mesmas, mas remetem-nos
À tempos longínquos de esperança, à ingênua idade da infância
Aonde o tempo era uma só estrela — tão brilhante, tão distante
A singela utopia da aurora dos nossos dias, hoje presente
Oscilante nas lembranças vazias — o tempo é uma ameaça
Constante que nos congela em noites frias
Sussurro, ao silêncio, este meu saudoso pranto
Enquanto elevo o olhar aos céus, buscando nele
Estrelas: algo imutável nesta natureza efêmera
Sigo a dança do universo, aos tropeços — aos versos — arrisco
Um ritmo, esqueço os passos. Até deixar-me guiar, lentamente
Até perder-me no tempo, latente:
Ao girar da roda sinto-me o último grão, levado
Mesclado e mimetizado a estranhos semelhantes
Tornando-nos uno amontoado ao sopro do vento