Despindo a Alma
Naturalmente, pensei, era como deveria ser
Suave, desliza pelos céus esse delicado caos
Tem rosto de chuva, canta trovões
Não muito longe daqui, a vida é ainda a mesma
Eu tive minhas escolhas, minhas chances
Errei, caí, vi extinguir minhas doces alegrias
Não significou muito chorar ou me contorcer
A cama não era o universo e meu medo não era o fim
Ainda criança cresci, ainda flor murchei
Na porta da escola a te esperar
O sinal soou, fim do dia, não há cor
Apenas um punhado de versos no bolso furado
Ali, sentado na calçada, observei pela primeira vez
Tudo ao meu redor, as pessoas, essas vidas díspares
Todas cheias de medo, com tanto em comum
Mas nem se quer se olhavam, nem se quer se importavam
De alguma forma isso sempre esteve aqui
Perambulando pela saliência de meus mundos
Perjurando amores eternos, dissimulando dores tão cruéis
Doces papéis desse treatralizar insano e entrópico
No eido de minha alma, num poço de lamento
Está seu adeus... Insólito, insidioso, pecaminoso
O meu mundo se tornou cinza, chuva eterna
Na balada desses dias mortos, morro vivendo
Descobri-me, duramente, fraco, frágil
Como uma porcelana, a um passo de quebrar
Sem amigos, sem destino, sem luz
Mas a solidão sempre me seduz
Eu não dormi, velei meus sonhos
Era o anjo sem asas do Éden
Meu jardim estava ameaçado pelas fagulhas da dor
Não podiam entrar em minha casa
Nem sei por que tão sinceramente, aqui, me entrego
Não machuca meu ego ser, assim, humano
Nessa manhã que meus olhos fechados não vêem
Eu ouço tua voz, nos recônditos mares de minha alma
Não há nada mais lá
Nada mais em você
... Eu percebo o canto dos pássaros
Sim... Ahhh... Novo dia!