eu tenho medo
eu tenho medo da imensidão
da imensidão do infinito
tenho medo dos amores
da ilusão
dos grandes amores
dos carinhos fortuitos
tenho medo das flores
do perfume das flores
tenho medo da perda
da dor imensa da perda
tenho medo do mar
do fascinio do mar
tenho medo de amar
tenho medo da lua
da solidão da lua
tenho medo da rua
onde ela mora
tenho medo quando ela chora
tenho medo da estrada
da proxima curva da estrada
dos mistérios do olhar
da desilusão
tenho medo do chão que eu piso
tenho medo de certos sorrisos
tenho medo de ficar muito perto
de ficar deserto
tenho medo do sol
das surpresas embaixo do lençol
da chuva torrencial
dos ventos
dos raios
dos trovões
tenho medo do mundo ao meu redor
do que pode ser pior
tenho medo dos camaleões
de não acordar do meu sono
do abandono
da casa arrumada
e vazia
da noite fria
da noite escura
tenho medo de escuro
do que eu não consigo ver
tenho medo de perder
de não envelhecer
tenho medo de deus
mas duvido
do moleque esperto
que assedia o meu vidro
tenho medo do bandido
do homem fardado
tenho medo de olhar pro lado
de atravessar a rua distraido
de andar sozinho e calado
de segredos no ouvido
de promessas
de sonhos
de pesadelos
da revolta dos cabelos
do desencontro
do excesso de zelo
do desconforto
de ficar a deriva
de não ancorar no porto
de não trancar a porta
de não abrir as janelas
do que não me conforta
dos desmazelos do jardim
tenho muito medo dela
morro de medo de mim