UM NOME EMBAÇADO

Tento apagar o nome

no vidro embaçado do carro

como tento apagar o passado

(mas sempre fica manchado)

O vidro está frio.

Meu dedo, sem pretensão alguma,

escreve.

Descubro uma mensagem

nas letras encadeadas, inconcretas.

A frieza do vidro

participa da festa de meus olhos.

É uma festa fúnebre,

quase um cortejo.

O nome desaparece.

Minha mão corta o vidro.

Dói. Pelo frio ou pela força usada,

os dedos se petrificam ruidosamente.

O nome desaparece do vidro...

meu coração não está exposto em vitrine...

não estou exposto dentro do carro...

está embaçado...

15 de dezembro de 2002

(MACHADO, Wanderson. Trôpegos passos. Brasília: ed. do autor, 2004. ISBN 85-98603-05-8)