IDEOLOGIA
Não sou um poeta
Encomendado pela elite
Nem pela pobreza
Nem pela religião
Nem pela nacionalidade
Sou sim!
Funcionário da Palavra
Do Verbo vivo
Da sintaxe
Da sílaba
Do texto
Do contexto
Não emprego o til
Para dá um som mais forte
Emprego-o
Porque a gramática me obriga
A gramática obriga tudo e todos
Neste território
Obriga os tritongos não se separarem
Obriga os hiatos se separarem
Obriga colocar o acento no “i”
De políticos, enquanto os mesmos.
Colocam o “o” no acento.
Num país de desempregos
Somos obrigados a empregar
E pagamos caro por isso,
Se não formos bem sucedidos
No emprego
Não abro mão da minha normativa gramática
Nem fecho mão também
Procuro temperá-la
Com o tempero do nordeste
Às vezes com o do sudeste
Com do leste
E do oeste
E se possível for
Importarei de outros países também
Mas preciso ter cuidado com a alfândega
Há quem tempere a gramática com o internetês
Confesso que pouco faço
Mas um conselho dou
Quem usa, não abuse!
Não sou poeta dos escravos
Nem dos oprimidos
Nem dos vituperados
Nem da burguesia
Nem dos flagelados
Nem do povo
Nem da massa
Sou apenas poeta
Ou uma criança que brinca com as palavras
Já que na minha infância
Não tive dinheiro para comprar
Brinquedos
A ideologia do poeta
Esta pautada no sonho
Alicerçada nas letras
Com rima ou sem rima
Em versos ou prosa
Esta embasada na realidade
Com um toque de fantasia
Vem implícita ou explicita
Na leitura dos livros
Na leitura da vida
O certo é que ela vem
Como poeta, não quero ser claro
Para não ser racista
Nem escuro,
Como apenas afirmação racial
Serei fazedor de versos
Com minha tonalidade
Não negarei a minha fé
Ao custo da fama
Nem ao custo da intelectualidade
Serei dependente de Deus
E não monopólio da morte.