MARCO GOMIDE EM PESSOA
Para você, Marco, que me visitou neste domingo, alguns fragmentos do nosso papo pessoano de que tanto gostou:
Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo.
(Ficção do Interlúdio/Álvaro de Campos).
Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
(Ficção do Interlúdio, Ricardo Reis).
O amor é que é essencial.
O sexo é um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.
(Poesias Coligidas/Inéditas).
Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
Encontrarás alguém como quem à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta.
Abra a quem não bater à tua porta!
(Novas Poesias/Inéditas).
Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à alma é cataclismo
O limiar onde está.
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.
( Cancioneiro).
Meu sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da razão.
(Novas Poesias/Inéditas).
in Fernando Pessoa
Obra Poética
Ed. Nova Aguilar
Para você, Marco, que me visitou neste domingo, alguns fragmentos do nosso papo pessoano de que tanto gostou:
Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo.
(Ficção do Interlúdio/Álvaro de Campos).
Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
(Ficção do Interlúdio, Ricardo Reis).
O amor é que é essencial.
O sexo é um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.
(Poesias Coligidas/Inéditas).
Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
Encontrarás alguém como quem à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta.
Abra a quem não bater à tua porta!
(Novas Poesias/Inéditas).
Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à alma é cataclismo
O limiar onde está.
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.
( Cancioneiro).
Meu sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da razão.
(Novas Poesias/Inéditas).
in Fernando Pessoa
Obra Poética
Ed. Nova Aguilar