Jazz citadino
lisieux
Eu bem me lembro quando tu te foste
Levando em tuas mãos experientes
os meus contornos de adolescente
Mapeados, decorados, impressos em ti
pelos teus dedos quentes, ansiosos
ah, eu bem me lembro desta madrugada
em que partiste levando os meus desejos
na tua boca o gosto dos meus beijos
o reflexo do meu olhar nos olhos claros
espelhos de minha alma...
Lembro-me bem... saíste pois, de mim
deixando o meu regaço abandonado
os seios-travesseiros desprezados
o côncavo entre as pernas tão vazio...
Tu te ausentaste assim da minha vida...
comigo não deixaste quase nada
E tu levaste contigo os meus segredos
Todos os meus sonhos, meus espantos
A minha perplexidade diante do mundo
Levaste também todo o meu sentimento
as lembranças, os sorrisos, os momentos
A luz do sol e o raio de luar
deixando no lugar só solidão...
E deixaste que as estrelas se apagassem
Escuridão palpável noite e dia
horizonte sem uma linha pra seguir
Hoje me encontro na cidade-grande
Luzes acesas, artificiais
Tão diferentes do luar, lá do sertão
Cartazes de néon e um céu cinzento
em que não posso ver constelações
No peito o coração ficou sangrando
descompassado e triste vai tocando
um "aqui jazz" desafinado
em vez de blues
notas se elevam,
cantam meu desejo
E no céu da minha boca
os teus beijos
sempre azuis...
BH - 01.08.03
(Resposta a "Sertanejo Blues", de José Maria Marques)