O que faço de mim?
lisieux
Lanço ao céu a pergunta: o que eu faço de mim?
O que faço dos meus pedaços, espalhados, largados, assim?
O que faço dos cacos do meu coração, quebrado em milhares
De partículas que brilham e voam pelos ares?
O que faço de ti, ó pedaço de mim? ...
ó vários pedaços do meu ser partido...
o que faço de ti vagabundo coração,
sem razão, desprezado, esquecido...
sem nada por dentro, vazio assim?
Como ajuntar os pedaços do ego?
Como guiar este íntimo cego?
O que faço dos fiapos do pensamento, dos elos do sentimento
dos fragmentos do corpo... dos fluídos da alma?
O que faço de mim... ó pedaço de ti!
Pedaço de ti que teima em viver em mim...
Em cada pequeno fragmento do meu eu volátil
Do meu eu volúvel, do meu eu volúpia
do meu eu paixão...
O que faço de ti, pedaço de mim?
O que faço de mim, pedaço de ti?
o que faço de nós?
Após,
Tudo passado...
Após a consumação do ato e do pecado
sem perdão...
Após a destruição de mim?
O que eu faço dos meus alicerces abalados
Dos muros desmoronados
Das cercas que não mais delimitam
Os limites da minha sanidade?
O que faço de ti, pedaço da minha vida?
O que faço da minha morte?
Parte entranhada, profunda ferida
Em carne viva, dolorida, atroz...
O que faço de mim?
Pedaço de nós...
BH - 24.07.02