Sortilégio
Haverá um tempo sem contratempo
onde meu tempo não seja contado,
onde não seja eu a estranha mutilada,
onde meus desejos sejam materializados
nas alquimias de uma vida fantasiada.
Sendo artista ou mera ouvidora de palavras,
dando de mim o que tão pouco me resta
ou o que demais tenho em vidas contadas...
Equilibrista nas alegrias, por tanto ferida,
em meio aos escombros desse preconceito,
ora sã, ora sonhadora, enlouquecida,
trajando em pelo o nu desbotado que creio.
Ser em minha verdade o jazigo desfalecido
das serpentes que rastejam aos meus pés
tentando envenenar-me o espírito...
Em tempestade lanço a sorte aos quatro ventos,
incenso sobe desenhando o sortilégio à direita,
o altar de pedra carrega a vela que acendo
enquanto queima o mal que o bem rejeita.
Que seja luz a encontrar meus passos,
e assim, que seja de paz meu norte,
que seja em nome da vida todo começo e fim
e que seja em nome do bem o fraco e o forte.