DEPOIS DE TI
lisieux
Depois de ti, pra que saber do tempo?
Sem ter-te aqui, pra que constelações?
Para que servem as ruas e os caminhos
E a lua a brilhar, no firmamento?
Pra que sinal de trânsito, guarda, apito?
Depois de ti pra que mil orações,
Onde está deus, em quem desacredito,
De que me servem rezas, procissões?
Depois de ti, pra que saber cantar
Bailar ao som de valsas, violões
Em acordes, serenatas ao luar
Bater de taças... onde, as razões?
Depois de ti, pra que ler o jornal?
Se temos mil motivos ou senões?
Que importa se é finados, carnaval,
Se existem mesmo fadas e dragões?
Depois de ti, pra que juntar papéis
Cheios de pontos de interrrogações?
Pra que chorar as perdas dos anéis
As marcas do passado, ingratidões?
Depois de ti pra que saber segredos
Ou aprender secretas alquimias?
Pra que vestir estranhas fantasias
E mascarar os entranhados medos?
Depois de ti, perdi-me em meus rincões...
Pra que tirar poeira, varriduras,
Pra que tocar antigas partituras
Se só sobraram teias nos porões?
BH 29.10.03 - 13h00m