Nhambiquara e o bandeira
Lancei-te a flecha certeira.
Nunca soube de bandoleira.
Menos sei da língua traiçoeira
Que a favor do branco fez bandeira.
Ao teu lado um homem pálido,
Desse pior ainda a cobiça.
Hoje sei, é o imperialista,
Permeio de serpente e carniça.
Salvando-se, ó vil traidor,
Aumentou do branco a pátria.
Desterrou os da tua própria raça.
Não pela força, mas pela trapaça.
Que o bravo sucumbisse lutando
Evitaste, pois o fez pacificado.
Por pacifico entregou-se ao engodo.
O audaz guerreiro perdeu-se no lodo.
Jogados ao abandono e a injúria.
Foram matando-nos pouco a pouco.
Deveras, imaginas que fiquei louco?
Sim, da falta de estar livre, solto.
Tolheste meus passos pela mata.
Sumiu-se a caça, que outrora abunda.
Sem peixe na água do rio, imunda.
A fome ronda, a cidade deslumbra.
Quisera ter teu rifle naquela hora,
Quiçá não veria o que há agora.
A mata virgem fez-se pastagem.
A glória, esquecida, uma miragem.
Outra vez voar qual a cutia.
Nadar no mato verdoso.
Ver a estrela vespertina.
Cavalgar no boto garboso.
Que dizes? Isso não é crível?
Pudera, tiraste-me a inocência
De acreditar ser tudo possível.
Ao menos, deixa-me a demência!
Brasília-DF, 09 de outubro de 2009.