Menina-mulher

Pele alva, seios hirtos.

Olhos profundos, castanhos.

O certo é que parecem brilhantes.

São faceiros, fugidios, chocantes.

Refletem sempre a infância,

Brincadeiras com bonecas.

Sonhos que já foram vívidos.

Do seu próprio castelo a ânsia.

Vejo neles um cavaleiro altivo,

Vindo do norte, talvez do sul.

Numa armadura negra, furtivo,

Montando seu ginete branco.

Arranca-te, tal atabalhoado.

Do teu castelo, feito cela.

O brindas com singelo sorriso

E um casto beijo, és donzela

Juntos ficam admirando a lua.

Depois, toma-te pela mão,

Saem lado a lado, pela rua,

Encantados com a imensidão.

Acorda de teu sonho, do tédio.

Fita da janela, o que vês é a rua,

Ao invés de castelos, os prédios.

Não vês, mas lá está o cavaleiro.

Nota o burburinho, a vida agitada,

O tremeluzir, estás amargurada?

Sem tuas bonecas, sem teu herói.

Agora enfrentarás o mundo sozinha.

E teu campeão? Claro que está lá fora.

Afinal, sabes que ainda és princesa!

Por que não vês dele a montaria?

Pois é evidente, como poderia?

Os tempos agora são outros.

Armaduras e escudos rotos.

Falsos cavaleiros, sem nobreza.

Só não esqueça, ainda és princesa!

O que é teu orgulho, tua beleza,

Não te colocará o pão na mesa.

Estás no mundo, o sonho acabou.

Sonhastes em criança, mas acordou.

Hoje sabes que já é quase mulher?

Será sempre esta, um rosto de anjo,

Mas a alma, essa sim, seduz e cativa.

São as tuas armas, vai, faz teu feitiço.

Lota teu castelo pleno de vassalos.

Talvez, entre eles, encontres o cavaleiro.

Mas como saber se é o verdadeiro?

Fácil, ouvirás hinos, não mais bulício.

Desejo-te sorte, minha bela menina.

Vai, enfrenta o mundo, é tua sina.

No caminho tropeçarás em espinhos,

Mas certamente surgirão muitas flores.

Terás sempre incontáveis admiradores.

Serão muitos, pois (recordas?) és princesa!

Eu estarei sempre ao teu lado e te digo,

Quando precisares, conta sempre comigo.

Brasília – DF, 09 de outubro de 2009.