BRINQUEMOS
lisieux
Vamos brincar
de amar:
assim sem medo,
assim sem hora
sem tempo...
sem lugar...
Quero esquecer
o banho gelado,
o ônibus lotado
cuja passagem subiu
(mas não o meu salário).
Esquecer
que sou operário
da construção civil,
que moro no Brasil ,
"sou Flamengo
e tenho uma nega
chamada Teresa"
e vários filhos
barrigudinhos
de olhares pidões
que, de tantos,
nem lhes guardo
os nomes...
Vamos brincar de amor
de amar...
Esquecer o elevador,
a fila do INSS,
o cartão de ponto,
as contas a pagar...
Quero ficar tonto
no fim de semana
e esquecer
que a grana,
mais uma vez,
não vai chegar
ao final do mês...
Vamos brincar, Teresa,
de amar...
na cama, na mesa,
no chão... onde for...
que vida de pobre
de rico, de nobre,
empregado, patrão,
não tem gosto não,
sem ternura
e paixão...
BH - 29.04.03