Infinita Chama
Esse teu silêncio é o que me acalenta
É em meio a tormenta que te ouço cantar,
Com voz de sirena, a canção mais calma
Que penetra em minh’alma e me faz sossegar
Quanto menos falas mais meu peito vibra
Pois és cada fibra do meu coração
Cada filamento, cada vaso e artéria
A prima matéria de minha pulsação
Te trago comigo como quem transporta
Por entre a aorta uma dose de vinho
Teu nome embriaga-me o corpo e a mente
És luz clara e quente em meu triste ninho
Quanto mais te olvidas mais te aproximas
Por isso minhas rimas só p’ra ti são feitas
São tuas minhas noites, são teus os meus sonhos
Mesmo os mais tristonhos, nos quais me rejeitas
Tenhas tu por mim uma imensa amizade
Sintas, pois, piedade, ou até desprezo
Eu trarei, comigo, para onde eu for
Esse ardor no peito sempre assim, aceso
Eu hei-de levar-te por toda minha vida
Guardada e doída, como um mal oculto
Um mal que me aflige e me rouba o senso
Um mal que não venço, mal no qual me exulto
Cultivarei minhas dores: flores de prazer
Este bem querer, que é no fundo um drama
Beberei cicuta, diesel e gasolina
Será minha sina essa infinita chama