ESBOÇO PARA UM RETRATO DE POETA
O rosto poético que me daria
Jamais o de Cecília
Muito menos o de Florbela seria
Portam infinita tristeza
Igual à noite longa
Das estrelas a estrada
E, perfilados, na névoa, única face fria
Então das duas eu guardo a dor contida
Para evitar sofrer
Chorar
Saudosa na partida
Prefiro ser alegre como um trem no amanhecer partindo
E sozinha
Pela janela vou escondida olhando
Tristemente
Todos os desenganos
E quando vem alguém eu finjo
Finjo ser poeta
Finjo que amo
Choro uma lágrima de flor
No orvalho da madrugada
O trem partindo alegre
Os passageiros em bando
E o apito me denuncia
Chorando