SOBRE NOMES

falei de amor com Rita,

[que não ouviu]

falei de amor com Luiza,

[que não ouviu]

falei de amor com Joana,

[que não ouviu]

falei de amor com Beatriz,

[que não ouviu]

falei de amor com Madalena,

[que não ouviu]

o meu gostoso querer

sem reclamos.

Rita entristeceu

ao ver as fotos guardadas de Luíza

[que também entristeceu]

ao ler as cartas de amor-rasgado de Joana

[que também entristeceu]

ao saber do posto de dona de casa da Beatriz

[que também entristeceu]

ao entender que a paixão por Madalena está a voltar

mesmo de braços vazios

e sem acenos.

e voltei a falar de amor com Marli,

[que não ouviu]

e voltei a falar de amor com Letícia,

[que não ouviu]

e voltei a falar de amor com Regina,

[que não ouviu]

e voltei a falar de amor com Patrícia,

[que não ouviu]

e voltei a falar de amor com Inocência

[que não ouviu]

o meu gostoso ficar

sem reclamos.

Marli, ciumenta,

rasgou as roupas usadas de Letícia

[que também ciumenta]

queimou os poemas adolescentes de Regina

[que também ciumenta]

passou a fazer a mesma dieta absurda de Patrícia

[que também ciumenta]

ao perceber que Inocência está muito mais bonita que antes

mesmo sem grana de sobra,

fez logo uma plástica.

Hoje em dia,

Rita é artesã de mão cheia,

Luíza deita sombras em qualquer jardim,

Joana revelou-se meretriz,

Beatriz, enfim, resolveu adotar filhos,

Madalena vive entre navios,

Marli, feliz, é cineasta,

Letícia continua a injetar-se insulina,

Regina chove sempre quando escurece o céu,

Patrícia, menos cética, está evangélica,

Inocência, tontinha, mexe ainda mais a bundinha! .

Mulheres que não me ouviram

[presentes ou passadas]

perdoem os maus modos da minha memória

que por tanto bem-gostar e bem-querer

falha:

guardei em mim todos os nomes;

mas os sobrenomes, jamais!

Sem reclamos, sim?