Imprecisa batalha amorosa entre o cavaleiro de La Mancha e a pequena Dulcinéia Inez
I
Inspirar-se é preciso
Viver não é preciso
Um dia, meus ossos se consumirão
Nas chamas de minha insana razão
II
No nevoeiro dos meus pensamentos febris
Só há canções de infantarias
Ninguém ouvi-las quis
O meu desejo é carnal
Envolver-me em seus quadris
Senti-la naquele dia em demasiada convulsão
Os corpos se descontrolaram
Na busca de etérea sensação
III
Não quero rija lei
Nem indefinida paz
Na poeira da imensidão do vale
Dulcinéia foste capaz
De mirar o cavaleiro do brejo-seco
Não trago guerra ao Rei
Aquela donzela plebéia
Deu-me alento, bem sei
IV
Quero o poder das horas
Um rebento, talvez
Fiquei desatento
Quando a vi, primeira vez
Oh, doce Dulcinéia Inez!
No momento do chamado
Por ti, entre os dedos
Escapou-me a sensatez
V
Minha única certeza
É crer na morte
Que nos encontrará cedo ou tarde
Numa nebulosa e densa nuvem
Libertaste-me do sono
A madrugada nos esfria
Cansei de vencer moinhos
Procuraremos o calor dos dias
VI
E no som da treva o tempo se cala
Tudo é incerto em teu olhar
Só há enigmas inverossímeis
Tu me cobras dogmas, verdades indiscutíveis
Levar-te-ei ao altar mesmo relutando em crenças acreditar
Aceite-me agora!
Descarte a confusão
Em La Mancha iremos morar
Meus sentimentos são sinceros
Não irão lhe confutar
*Baseando-me em Fernando Pessoa
homenageio Dom Quixote, seus moinhos e sua amada.