Evitando o reproche
Não quero, em vida, sofrer a crítica condoída.
Se tiver que ser, prefiro deixar para depois,
Pelo menos vão dizer: coitado!
Não foi nenhum bardo, mas teve coragem ao escrever.
Quero falar do amor, qual o poeta que foi tão cedo
Sem realizar o que tanto idolatrou, o Azevedo.
Falar do que ele falou, mesmo sem sequer conhecer,
Mas não o faço simplesmente por temer.
Quero falar da vida, como o fez o grande bardo.
Aquele que ainda hoje pelo orbe ressoa, o Pessoa.
O que ela é para mim, se não também a morte.
Qual a dele será também essa a minha sorte?
Quero falar das ruas, das gentes, dos costumes,
Como fez o mancebo das moças, o Macedo.
Poderia contar como é triste a miséria de hoje.
Tal como antes nunca o fora.
Tentaria falar dos índios por Dias,
Mas assim só o imitaria.
Quem sabe falar da força dos vagalhões?
Mas também se pareceria.
Mas não falo por puro medo,
Pois a crítica muitas vezes é perversa.
Recrimina inflamadamente ao que detesta.
E isso parece o que melhor sabe fazer.
Não sei como poderia aceitar,
Mas também não quero sequer arriscar.
Assim vou levando, ora escrevendo,
A maioria guardando ou rasgando.
Para a crítica julgo melhor nem oferecer.
Seria, por certo, alvo de julgamento profligo.
Seria, verdadeiramente, dar a face a bater.
Seria ver o que escrevi definhar e morrer.
Então, melhor esperar, deixar o tempo passar,
Antes de entregar a cólera despótica.
Tudo o que tentei criar,
Prefiro deixar ao extermínio.
Brasília – DF, 08 de agosto de 2009.