Contramão

à beira do abismo,

a um passo do vão,

calado e entristecido,

convidei a lua para sentar-se comigo.

ela não veio... como era de se esperar!

sequer, abanou-me as mãos - mísero gesto.

alheia ao que se passava dentro de mim,

refugiou-se por entre as corcovas da serra

retirando de cena sua claridade,

como um rio que pede água.

exausto, embrenhei-me por entre minhas mãos

calejadas e sofridas,

num ato mais que inocente.

vi-me como uma caricatura inútil e obesa,

que se presta ao riso fácil de ilustres transeuntes.

plantas carnívoras ofereciam-me suas sombras,

que mais pareciam galhos mortos,

restos de tempos passados.

pus-me de pé, envergonhado

retornei ao ponto de partida,

foram passadas compassadas.

de olhos fixos no vale

voltei como havia ido

para que não percebessem minha volta

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 02/10/2009
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