Contramão
à beira do abismo,
a um passo do vão,
calado e entristecido,
convidei a lua para sentar-se comigo.
ela não veio... como era de se esperar!
sequer, abanou-me as mãos - mísero gesto.
alheia ao que se passava dentro de mim,
refugiou-se por entre as corcovas da serra
retirando de cena sua claridade,
como um rio que pede água.
exausto, embrenhei-me por entre minhas mãos
calejadas e sofridas,
num ato mais que inocente.
vi-me como uma caricatura inútil e obesa,
que se presta ao riso fácil de ilustres transeuntes.
plantas carnívoras ofereciam-me suas sombras,
que mais pareciam galhos mortos,
restos de tempos passados.
pus-me de pé, envergonhado
retornei ao ponto de partida,
foram passadas compassadas.
de olhos fixos no vale
voltei como havia ido
para que não percebessem minha volta