A grande pescaria

Descendo as corredeiras do rio Paraguai

Fiquei maravilhado e quase mudo

Ao ver a natureza ao meu dispor.

Era tanto esplendor

Naquele mundo alagado

Remei, remei com infinito cuidado

Para não manchar a flor do divino pecado.

Navegava no caminho das estrelas,

Eu e meu amigo Castrinho,

Ele ria como um passarinho

Que voou e perdeu o ninho.

O barco cortava as águas

Como uma faca amolada

Que fere sem mágoa nem dor.

Íamos na captura do grande peixe

Que subia e descia o rio como uma flecha

De luz incandescente e prateada.

O sol batia na invernada

Expulsando a madrugada

Que escondia a passarada

Lá no fundo da imensidão.

Depois de muito remar

Chegamos em um lugar

Que mais parecia o velho mar.

Lancei minha isca

Lá na boca do riacho.

Já não fazia frio,

Mas foi um grande calafrio

Quando fisguei um pintado

O pobre do coitado

Lutando desesperado

Nadando de banda e de lado,

Me fez ver que estava ferrado,

Mas que não havia morrido e nem chorado

Pois faltava ainda, o derradeiro gemido.

Meu coração carcomido

Capengava lento e aflito,

Já não estava tão convencido.

Mas para o meu contentamento

O vento soprou violento

E naquele movimento

Perdi a fisgada do momento.

Meu amigo Castrinho,

Na proa do barco,

Exclamou indignado:

__Que pena, perdemos este danado!

Mal sabia ele

Que aquilo era o que mais queria,

Naquele primeiro dia de pescaria.

Dizem lá na beira do fundão

Que Deus não castiga

Só concede o perdão,

Há quem perde o grande peixe

Logo no primeiro puxão.

O rio corria manso

Trazendo em suas margens

Belos e imensos gansos,

Em algazarra,

Denunciavam a nossa vil presença

Que, com certeza, seria uma sentença de morte

Para o peixe desprevenido

Que corresse destemido,

Levando na boca o petisco

Sem medo nem ruído.

O rio seguia cauteloso

E com ele, eu e meu amigo jocoso.

Em suas águas cristalinas

O jacaré miúdo deslizava meloso

Com intenções felinas e olhar guloso.

Lá pelas tantas,

Com o sol já debulhado nas corredeiras

E ainda descendo o rio sonhando com sereias,

Meu amigo Castrinho

Fisgou um pacu.

Pensando que fosse um candiru,

Ou até mesmo um pirarucu

Fez cara de entendido

E como um pescador atrevido

Esbravejou: __ Prefiro o mandijuba

Que tem a força da trauba

E que corre como o pirajuba.

Como gosto não se discute,

Fiquei só observando,

Para não dizer imaginando

Meu amigo apalpando e olhando

O ferrão do mandi.

Assim, não me contive e exclamei:

__ Tuviras Castrinho?

__ Tu_viras!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 29/06/2006
Reeditado em 30/11/2023
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