Anoiteceu...
A samambaia brotou mais filhotes,
O gato corre pela casa e mia,
E anoiteceu com ou sem poesia...
E eu já avisei: anoiteceu.
E à noite todos os gatos são pardos,
Todo o silêncio é inevitável
E toda a solidão insuportável
Passei um café novo,
Encapei um livro novo,
Trouxe pão da viagem,
Trouxe mais saudade
Que recolhi na estrada,
Trouxe cansaço de tanta coisa,
De tanta coisa tão repetida.
Só não trouxe a noite porque não vi.
Vi meu rosto no espelho. Que estranho!
Dói a batata da perna,
Antes de dormir, tomar banho!
Amanhã é véspera de domingo,
Essa semana pareceu eterna...
Sei o que perco, não sei o que ganho.
Anoiteceu... avisei que anoitecia!
Faço bolas de pano,
Porque preciso não dormir,
Como ou sem poesia.
Silêncio do telefone,
Silêncio do interfone,
Silêncio de todos os olhos
Que nunca olharam para mim
Anoiteceu esse silêncio...
Só o gato mia, e mia!
Olho poemas antigos
E os novos em rascunho,
Não sei o que há em mim...
Fuço as pastas, as gavetas,
Termino desenhos de outro dia,
Só não termino pensamentos,
Sempre esses rascunhos,
Que ouso chamar poesia.
Não sabia o que escrever
Depois daquela linha de cima.
Depois dos anos que vivi,
Não sei mais o que ser,
Não sei. Não sei. Não sei...
Sei que anoitecia,
Logo depois que avisei,
Com riso ou pranto,
Tristeza ou alegria,
Com toda a solidão,
Anoitecia...
E essa noite fria
Tinha que ser também vazia.
Eu, cansado, desisto de tudo
Para tentar fazer amanhã,
Meu amanhã de esperanças infundadas.
Nem mais o gato mia,
Meus pensamentos sonolentos,
Meus olhos cansados,
Tanto dessa coisa vadia,
Anoitecendo em mim,
Como se fosse poesia.
Anoiteceu e eu nem vi...
À noite todos os sentimentos são parcos.
Anoiteceu e eu envelheci,
Cada vez mais sem alegria,
Sem aquelas tão tolas esperanças.
Envelheci e nem percebi
Que sempre anoiteceu sem poesia.
Vi um filme, depois outro,
Não evitei pensamentos sobre passos
Que vou ter que dar amanhã.
Não veio vontade nenhuma de dormir,
Só vontade de anoitecer,
Como que para esquecer que não vivi.
O despertador a postos, pronto...
Anoiteceu para eu acordar,
Tão cansado de sonhar.
E para gastar meus dias
Deserto como uma ilha perdida,
Incerto como que naufragado em ilusões,
Por tentar em vão compreender
Que se anoitece é só para mim,
Justo eu, que desaprendi a esquecer.
Ensaio diálogos que nunca vou ter,
Repasso cenas em que não me incluo,
E excluo-me de cenas tão lindas
Que nunca vão acontecer,
Dessas histórias que não são minhas.
Ensaio teimar e ser forte,
Aprendo mais e mais calar
E tento ainda o dom de esquecer,
Que anoiteceu e não era para anoitecer.
Anoiteceu e foi só em mim...
E nem sei mais da interminável espera,
Alguém distante que não vem,
E não me diz, não vem, não diz.
Ou alguém tão próximo que não me vê,
Distante e próximo, alguém...
Não me diz e nem me vê.
Anoiteceu e eu não digo...
O que penso disso não escrevo,
À noite todo o pranto é secreto,
Toda a tristeza tão mais imensa,
E todo o medo tão concreto.
À noite tudo o que sei é não ser
Não de outro modo que incompleto,
Repleto de toda a essência,
De tudo o que simplesmente não digo.
Eu te amo e não posso...
Amor mais que tudo fere.
Essa chama, essa chaga, esse nada,
Essa doença que não me deixa,
Essa dor que não interfere
Numa outra dor que tem que doer,
Que não tem cura e que dura
Mais que essa noite que anoitece.
Anoiteceu...
E eu não sei anoitecer com essa noite,
Apagar talvez toda a luz em mim,
Calar ainda um outro alvorecer.
Amanhecer é só para sentir no peito
Bem fundo mais essa dor,
Essa dor de anoitecer
A samambaia brotou mais filhotes,
O gato corre pela casa e mia,
E anoiteceu com ou sem poesia...
E eu já avisei: anoiteceu.
E à noite todos os gatos são pardos,
Todo o silêncio é inevitável
E toda a solidão insuportável
Passei um café novo,
Encapei um livro novo,
Trouxe pão da viagem,
Trouxe mais saudade
Que recolhi na estrada,
Trouxe cansaço de tanta coisa,
De tanta coisa tão repetida.
Só não trouxe a noite porque não vi.
Vi meu rosto no espelho. Que estranho!
Dói a batata da perna,
Antes de dormir, tomar banho!
Amanhã é véspera de domingo,
Essa semana pareceu eterna...
Sei o que perco, não sei o que ganho.
Anoiteceu... avisei que anoitecia!
Faço bolas de pano,
Porque preciso não dormir,
Como ou sem poesia.
Silêncio do telefone,
Silêncio do interfone,
Silêncio de todos os olhos
Que nunca olharam para mim
Anoiteceu esse silêncio...
Só o gato mia, e mia!
Olho poemas antigos
E os novos em rascunho,
Não sei o que há em mim...
Fuço as pastas, as gavetas,
Termino desenhos de outro dia,
Só não termino pensamentos,
Sempre esses rascunhos,
Que ouso chamar poesia.
Não sabia o que escrever
Depois daquela linha de cima.
Depois dos anos que vivi,
Não sei mais o que ser,
Não sei. Não sei. Não sei...
Sei que anoitecia,
Logo depois que avisei,
Com riso ou pranto,
Tristeza ou alegria,
Com toda a solidão,
Anoitecia...
E essa noite fria
Tinha que ser também vazia.
Eu, cansado, desisto de tudo
Para tentar fazer amanhã,
Meu amanhã de esperanças infundadas.
Nem mais o gato mia,
Meus pensamentos sonolentos,
Meus olhos cansados,
Tanto dessa coisa vadia,
Anoitecendo em mim,
Como se fosse poesia.
Anoiteceu e eu nem vi...
À noite todos os sentimentos são parcos.
Anoiteceu e eu envelheci,
Cada vez mais sem alegria,
Sem aquelas tão tolas esperanças.
Envelheci e nem percebi
Que sempre anoiteceu sem poesia.
Vi um filme, depois outro,
Não evitei pensamentos sobre passos
Que vou ter que dar amanhã.
Não veio vontade nenhuma de dormir,
Só vontade de anoitecer,
Como que para esquecer que não vivi.
O despertador a postos, pronto...
Anoiteceu para eu acordar,
Tão cansado de sonhar.
E para gastar meus dias
Deserto como uma ilha perdida,
Incerto como que naufragado em ilusões,
Por tentar em vão compreender
Que se anoitece é só para mim,
Justo eu, que desaprendi a esquecer.
Ensaio diálogos que nunca vou ter,
Repasso cenas em que não me incluo,
E excluo-me de cenas tão lindas
Que nunca vão acontecer,
Dessas histórias que não são minhas.
Ensaio teimar e ser forte,
Aprendo mais e mais calar
E tento ainda o dom de esquecer,
Que anoiteceu e não era para anoitecer.
Anoiteceu e foi só em mim...
E nem sei mais da interminável espera,
Alguém distante que não vem,
E não me diz, não vem, não diz.
Ou alguém tão próximo que não me vê,
Distante e próximo, alguém...
Não me diz e nem me vê.
Anoiteceu e eu não digo...
O que penso disso não escrevo,
À noite todo o pranto é secreto,
Toda a tristeza tão mais imensa,
E todo o medo tão concreto.
À noite tudo o que sei é não ser
Não de outro modo que incompleto,
Repleto de toda a essência,
De tudo o que simplesmente não digo.
Eu te amo e não posso...
Amor mais que tudo fere.
Essa chama, essa chaga, esse nada,
Essa doença que não me deixa,
Essa dor que não interfere
Numa outra dor que tem que doer,
Que não tem cura e que dura
Mais que essa noite que anoitece.
Anoiteceu...
E eu não sei anoitecer com essa noite,
Apagar talvez toda a luz em mim,
Calar ainda um outro alvorecer.
Amanhecer é só para sentir no peito
Bem fundo mais essa dor,
Essa dor de anoitecer