Adejar

quando o sol nasce

entre os seios da serra,

varrendo o orvalho frio e denso

o caboclo, no silêncio de sua quietude,

tange o gado, vacas ferradas.

taboas carcomidas pelas beiradas

aprisionam as crias,

são compartimentos estanques

onde os berros entristecidos de fome

denunciam o assalto incondicional

que será feito nas tetas de suas mães.

a ordenha mecânica não vacila,

suga o quanto pode

é o ouro branco correndo pelos tubos

como se fossem veios de cristais.

sem possibilidade de reação,

amuadas, reses incansáveis,

não refugam, não choram,

e a vida continua

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 30/09/2009
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