SAUDADE SEM FIM

lisieux

Saudade mula-sem-cabeça

saudade saci, assombrando-me as matas

sussurrando nas cascatas

cantigas de entardecer

Saudade barata-tonta

correndo pelos corredores

escondendo-se pelos cantos

das pontas do meu sapato

Saudade carrapato

grudado na pele,

sanguessuga...

Saudade galho de amoreira

sacudido pelo vento

espalhando flores secas

no chão do meu coração

Saudade berrante

espalhando sons no poente

tristemente...

Saudade borboleta presa

pelas asas, num quadro na parede

colorida e inerte

Saudade coleção de porcelana

delicada

na prateleira do armário

arrumada

saudade relicário

Saudade dos suspiros, dos sussurros

e dos urros de prazer

nas noites eternais

Saudade dos olhares, dos sorrisos

dos milagres

que se faziam florescer

na nossa alcova

Saudade feiticeira, sem vassoura

saudade mãos de tesoura

cortando-nos os laços

Saudade sem cancela, sem fronteira,

sem final e sem limites

Saudade

matadeira.

SBC - 29.08.04

lisieux
Enviado por lisieux em 20/05/2005
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