Forte Ventania

Um dia veio forte, fria a ventania

Deixou minhas mãos quentes vazias

Levou as rosas tenras qu’eu colhia

Espalhou as pétalas de seda que havia

E semeou à terra a vida qu’eu perdia...

E se perdida, penso ter tudo o que queria

Depois longe vi tudo o que sabia

Agora sei bem, não há o que vivia

Voltou o vento, a vontade impedida

Vontade de sentir o que a mim se exibia...

Ar seca o meu rosto, lágrima ardia

Tira a maquiagem, eu todo aturdia

Não tenho mais face, só melancolia

Não sei olhar, miragem sumia

E acordar com o sol eu não mais podia...

O que desprezava, oitava maravilha

Se tornou, fulminante, da noite pro dia

Abriu os meus olhos em dor e agonia

Sem lente possível, lamento de uma via

Ficou pesada, diária, a minha lida

E o cego chorou, lágrimas vadias

Frequentou rostos de muitas vidas

Até que tropeçou ao meio-dia

De novo quente, não arde mas vibra

Brilham os olhos, a alma, certa, sentia