Uma Dor Nova
Esse tipo de dor eu ainda não conhecia
Era ainda jovem e tão perdido em mim
As suas palavras eram como pérolas
Eu as esperava e, se as tinha, guardava muito bem
O sorriso tão naturalmente introspectivo
Os lábios suscetíveis a expressar dolorosa verdade
E tudo aquilo no chão, e todos os dias frente ao sol
Era tudo como fagulhas do tempo, ah, apenas o tempo
Esse tal tempo passa tão rápido
Mas deixa marcas tão vagarosas
Essa tal liberdade vendida no refrão
Custou-me felicidade, uma pausa na emoção
Um coma na existência
Um anjo no porão
Eu rejeito suas flores, mas aceito seu amor
Quero-te tão longe, mas seguro tuas mãos
O seu rosto era ainda toda a beleza do mundo
Desse meu mundo entrópico, falido, solitário
Não que eu fosse sozinho, mas sozinho voltava
E apenas o travesseiro sabe quantas noites, na luz de tuas lembranças, passei
E quando os soturnos passos desses devaneios tomam meu ser,
E quando a imaterialidade de sua presença se mostra tão fatidicamente
Sinto meu sentimento sotoposto nas chamas da incredulidade
Mas há algo de lindo na dor, na canção inocente da esperança
Essa mancha, sovertida, evanescida, jogada ao opróbrio
Apenas uma escrita numa folha de papel antiga
Talvez, travestido de futuro, o teu presente lhe pregue peças
E, num desses atos sem script, esteja eu, aturdido, ferido
Sem final feliz, na elegia cotidiana desse mundo putrefato
Uma alegoria da alegria tremeluzente, da fé escassa
Bem, ainda assim eu busco esse fim, distante de mim
Um verso, uma lágrima... O verão!