Gato de Botas

Procura marcas de sua presença.

Procura sinais, procura.

Ë a seca do Norte;

É o vendaval que leva tudo,

Ë o gosto do azedo,

É algo que não está normal.

Corrói, dispara, incomoda,

Confunde.

Rege uma ópera,

Rege uns mil instrumentos,

Uns mil corações.

Não deixa Alice dormir...

Fala com convicção.

Orquestra as estampas,

Pestaneja as verdades.

Sugere assuntos, perguntas

Deixa a platéia sem respostas,

Suborna, corrompe-a.

Não se faz tangível,

Não escreve seus episódios.

Pronuncia tudo em francês:

Roseta suas passagens.

Não deixa Alice entender...

Ensina caminhos errados,

Despista os festins,

Despista os incautos.

Transfigura os perfis.

É a estação que amedronta,

Um papel deixado num banco,

Escrito "Au Revoir".

É um eunuco lírico,

É um personagem abstrato,

É a retaliação de um sopro,

É nada de palpável,

É um espaço no vácuo,

Que não deixa Alice tocar.

Alexandre Paiva
Enviado por Alexandre Paiva em 29/09/2009
Código do texto: T1838818
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