Retrato Decadente
Os livros gritam silenciosos
As cores apáticas ignoram
A brasa acende e joga sob o ar
A asmática cinzenta fumaça a passar
Pequenas legendas que invadem a pútrida lente
Significam tão pouco, quase nada agora
Brota-se em tão ilógica gênese
Um retrato de sinceridade biológica.
Um rosto esculpido em apática expressão
Indefinível, irreconhecível pela razão
A arte em seu berço macabro de ilusão
A cor velha e cinzenta, enclausurada na perdição
Mentiras, ilusões e desilusões esculpem uma face.
Esfinge definhada, torturada em disfarce.
Culpa desta, eis o rosto do apache.
Culpa dela, miséria em retrato com molduras
Feitas de cacos caídos da vidraça de Marte
Vinhas que torturam tão definhada face
Agoniada, silenciosa, apática expressão de arte
Antítese do tédio e da irrelevância cotidiana
Tão interessante a pútrida arte
Vinhas secas, mortas que preenchem
As lacunas oriundas de uma obstinada sina
Da criação do novo suposto deus desta noite
A entorpecida presença impregna
E percorrem tuas entranhas, e moldam tuas tripas
E perfuram teus olhos, em morte rústica
E entrelaçam e transpassam tua expressão indigna
E descrição novamente não se aplica
Ao tamanho retrato macabro desta face
Retrato teatro de cenas intermináveis
Agonias gritantes se esculpem nessa face
Melancolias surgem itinerantes dentre partes
Tudo a se preencher em torno desta tela
De vidro estilhaçado, d’um modelo exilado
Exaurida, a exaurir o olhar obstinado
Eis, ó belo retrato de minha parte
Vinhas que definham o rosto do mártir
Eis o resultado da sina masoquista
Eis o perseverante vômito de palavras
Para a tentativa frustrada de passar a mensagem
De divulgar aos decadentes, minha verdadeira face.