COLHEITA

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Minhas mãos foram instrumento

Sementeira tão ingrata e cruel

Espalhou grãos de tristeza fria

E dolorida no meu terreno fértil

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Veio a chuva mansa, o vento...

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Grãos fecundos; germinaram

Criaram raízes tão resistentes

Rasgando meu terreno....Ó dor...

Cresceram; tronco, galhos fortes

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Folhas viçosas, seiva bruta, bruta...

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Eis que chega a primavera; flores

Anunciando, no meu solo, frutos

De um sabor conhecido por mim:

Amargo, acidulando lábios, verbo...

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Um gosto do avesso do avesso...

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Ontem caminhei por esse terreno

E deparei-me com a cena provável

Árvores repletas com o fruto dolorido

Que, no meu solo, eu mesma plantei..

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É chegada a hora da colheita, enfim...

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(Lena Ferreira)