Maria Teresa conversa comigo
Ela me dá um punhado de chá
me dá a chaleira e a água do pote
Maria Teresa me dá um sorriso
me dá um ânimo um pouco de ajuda
Maria Teresa é pobre, bem simples
não tem tv, nem geladeira
tem apenas a vida e a idade
Mas ela parece criança...
Com seu rostinho enrugado
e seu arzinho feito...
E tem também o Lobby
seu cachorrinho amigo
que se senta ao seu lado
Maria Teresa está rindo
e tudo nela parece apontar pra isso
Ela me dá um tamborete
um prato de cuscuz, pergunta se eu quero café
mas eu não quero nada disso
apenas sentir-me perto dela
Maria Teresa nunca foi mãe
disse que o coração dela era muito vasto pra isso
e que preferia ser amiga de todos
pra não se prender a um grupo
Por isso também nunca casou
e acha que vai muito bem assim
"Eu amo muita gente, não posso me entregar a um"
É verdade, sem ser vulgar
Maria Teresa é de todos
sem excessão alguma
Adora ficar na frente de casa conversando
De vez em quando não pode, devido a osteoporose
mas sempre vem gente visita-la
Ela me olha e me diz que é
pra eu parar de me preocupar
e ri me chamando de estressado
"Vocês da cidade são um bando de doido
parece que "num" come feijão...
Isso é essas bosta que vocês come
que deixa sem juízo, cuidado pra tu não emburacar também"
Maria Teresa nunca foi mãe
e parece que não precisa
mas não sei porquê
Ela tem um dom de dizer o que a gente sente
e tudo se resolve numa coisa apenas
sentar-se e comer feijão com ela
Dai ela se levanta e diz que vai dormir
e pede que eu a leve
Cubro-a e adormece
Maria Teresa dorme
e dorme e dorme
como um anjo de cinco anos
num corpo de oitenta