LEI DO VENTRE LIVRE
 
Minha doce ama bradava
a promulgação da nova lei,
desejando me ver contente.
Mas, triste sorriso eu dei,
porque continuava cativa
e nada mudava pra gente.
 
Via tudo do mesmo jeito.
Escrava eu continuaria
e quando aquela criança
viesse buscar meu peito,
eu sabia que só restaria
uma pequena esperança.
 
Ainda, na calada da noite
e naquele canto tão gelado,
na mais profunda solidão,
sentiria cada novo açoite
dado ao meu negro amado.
Legado da torpe escravidão.
 
Karmas que o pesadelo vela
nas chagas deste coração,
onde gritos mudos da senzala
ecoam dores que eternizam
todos segredos que cobririam
a pior mazela de uma nação.
 
Lei Áurea...Lei Áurea...
Conselheiro Rodrigo escreveu
e Oxalá já concebeu.
É isso que esta negra precisa...
Assine-a, mais depressa, princesa.

                
SP - 28/09/09



Fernando Alberto Couto
Enviado por Fernando Alberto Couto em 28/09/2009
Reeditado em 03/10/2009
Código do texto: T1835974
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