LEI DO VENTRE LIVRE
Minha doce ama bradava
a promulgação da nova lei,
desejando me ver contente.
Mas, triste sorriso eu dei,
porque continuava cativa
e nada mudava pra gente.
Via tudo do mesmo jeito.
Escrava eu continuaria
e quando aquela criança
viesse buscar meu peito,
eu sabia que só restaria
uma pequena esperança.
Ainda, na calada da noite
e naquele canto tão gelado,
na mais profunda solidão,
sentiria cada novo açoite
dado ao meu negro amado.
Legado da torpe escravidão.
Karmas que o pesadelo vela
nas chagas deste coração,
onde gritos mudos da senzala
ecoam dores que eternizam
todos segredos que cobririam
a pior mazela de uma nação.
Lei Áurea...Lei Áurea...
Conselheiro Rodrigo escreveu
e Oxalá já concebeu.
É isso que esta negra precisa...
Assine-a, mais depressa, princesa.
SP - 28/09/09