O Dia D

Paro de súbito,

encaro-a,

levanto-me,

(dou um grito)

e visto-me,

assim mesmo,

frio e curto,

seco,

muito diferente da dor

que tenta escorrer pelos meus olhos.

E ela, de repente, repete,

me dá vontade de fugir,

eu já havia ouvido na primeira vez.

"Eu te deixo na sua casa".

No carro, cheio das lágrimas

dela,

finjo ser forte,

como sempre fingi.

A dor é minha,

só minha.

Ela declama suas apologias

o caminho inteiro,

e eu escuto tudo sem responder.

Paro o carro,

ela suplica:

"Me perdoa, por favor...

Você me disse, meu amor,

que quem ama, perdoa..."

e eu realmente havia dito,

eu disse que sempre a perdoaria,

eu achei que conseguiria.

"Eu já te perdoei,

minha eterna alegria,

agora sai do meu carro

e deixa de hipocrisia".

O resto do caminho,

até a minha própria casa,

é irritante.

O que me irrita?

Não parar de pensar

nos sorrisos

e nos beijos,

que foram,

um dia,

só meus.

Me irritam as promessas quebradas,

todas as utopias despedaçadas...

Eu acreditava.

Me irrita chorar no volante,

desejando bater o carro,

ou somente ser lembrado.

Me irrita chorar errante,

chorar perdido e solitário,

chorar quente, inconsolável.

Me irrita chorar,

mas eu choro,

sozinho,

até dormir.