PEDRA BRUTA
Nem imagem, nem semelhança
com quem quer que seja,
com um deus ou demônio,
ou animal, ou qualquer coisa.
Sou vestígio sem paradeiro
sou um verme, sou borboleta;
faço das tripas coração,
mas desistir? Eu não!
Quem te disse que
sou ponderada
ou acessível,
ou inocente rês
neste curral das gentes ?
Sou mesmo enviesada,
e tenho minhas veleidades,
minhas portas não se abrem
ao sabor dos ventos
de alheias vontadesl
Meu palácio é sítio cercado
e tenho esta torre
de onde aprecio
à segura distância
o viajante aventureiro
atraído pela paisagem.
Mas desço do meu pedestal, isso sim,
quando a minha vontade assim decide
e quando me faz gosto a convivência
E tenho minhas ternuras guardadas
e delas não sou avara, basta que
alguém as saiba encontrar
Não me submeto às vontades
nem aos gostos alheios,
quando muito faço acordos
se valer a pena a contenda!
Não sou prenda que se venda
a um mero sorriso ou agrado
comigo não vem de lado
quero tudo bem às claras.
Sou tal planta com espinhos
nativa e avessa a jardins
resistente aos predadores,
e no clima ameno de tua presença
me encho de flores.
Ao toque de mãos carinhosas
de ternos e outonais amores
ofereço meus doces frutos.
Sou fortaleza tão frágil
aos teus ventos e chamados
mas pertenço a este chão
a estes brejos, paisagens,
sou pedra bruta, aqui sou inteira
Não passarei da porteira
e te guardarei no meu coração!