SEM PRESSA
Não...
Eu não tenho mais pressa
Não aquela pressa irracional
Que me fazia precipitar no raso
E ir buscar no fundo do nada
O nada provável e previsível
O tempo sentou-se ao meu lado
E numa conversa amena, lembrou-me
Que tudo passa diante dos olhos
Com a velocidade cabível à mente
De quem observa o fato; é fato!
Se para mim, que vivi já um tanto
E vejo os fatos correrem apressados
Quem sabe não sejam esses meus olhos
Que até ontem vadiavam pelo horizonte a fora
Independentes, irresponsáveis, ágeis, ávidos
E que hoje, já cansados, vagam, limitados
Com bengalas e aros a enxergarem um palmo
Diante do ritmo frenético das coisas...
Quem sabe não sejam esses olhos os culpados
Não...Não cabe a mim pôr a julgo os pobrezinhos
Pela minha impotência diante desse mesmo tempo
Que hoje, sentado ao meu lado, como bom conselheiro,
Não passa...Apenas deixa-se estar nos traços da minha tez...
(Lena Ferreira)