Notivago

Noite amiga, que me cobre com seu triste véu.

Tua amplidão é o que desejo e o que sempre me apraz,

No teu silêncio dá-se o encontro do meu eu com a tua paz.

O dia se arrasta triste, pois me faz sentir dele o fel.

Mas ressurges triunfante, cobre com negro manto ao céu.

Posso, outra vez, banhar-me do teu sossego em languidez.

Sentir teus aromas, perceber os espectros transitando ao léu.

Tu que és tão casta quanto a virgem que jamais se desfez.

Que um dia também partiu como tu, sem que nada o impeça.

Ela nunca mais surgirá, pois não tem a tua força e o teu brio.

O que ficará da virgem que não deixou choro nem festa.

Foi-se, sem deixar risos ou lágrimas, tornou o dia sombrio.

Como tu fostes, em outros tempos, por trazeres trevas infindas.

Não sabia-se ao certo se permitirias que houvessem mais dias.

Mesmo assim fui o servo do negro clamor de noites horrendas.

Depus aos teus pés minha vida, entre muitas outras oferendas.

Hoje, deponho-me novamente, não te peço glória nem fortuna.

Peço que ao poeta permita roubar-te um pouco da inspiração.

Também, que a minha alma não abandones jamais à tua escuridão.

Do corpo faça o que te aprouver, pois não há gloria em caixão.

A ventura está em passear pelas tuas orbes infinitas,

Volitar, levemente, pelos ares sentindo tua brisa refrigéria.

Aguardando novos tempos, livre da capa e destas misérias.

Tempo quando seremos um só e voltarei a singrar tuas órbitas.

Hoje, só quero o repouso, que nunca negaste ao justo.

Quero deitar-me sobre tuas estrelas e admirar-te somente.

Ao amanhecer me despeço e espero-te a qualquer custo.

Sei que virás e, mesmo que demores, aguardarei eternamente.

Brasília – DF, 08 de agosto de 2009.